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IECA PARA CRISTO, CRISTO PARA TODOS!         DESDE 1880.

COMO SURGE ACÇÃO SOCIAL NA IECA?


A génese do trabalho social estruturado como segunda face da mesma moeda, que para sua implementação contava com a contribuição do angolano, o beneficiário, começa aproximadamente em 1911 com a delegação da Junta Americana na Assembleia Anual da Missão Ocidental para África Central que decorreu no Bailundo. Ao sugerirem que deve haver uma Associação que congregue os cristãos para partilharem não só assuntos de carácter religiosos como os do dia-a-dia, deu-se início de partilhar assuntos de interesse comum.

Convém ressaltar que até ao inicio da segunda década do século XX, isto é, (30) trinta anos depois da fundação da Igreja, havia (5) missões, Igrejas: Bailundo, Kamundongo, Chissamba, Chilesso e Elende. Todas elas tinham serviços de ensino e educação e saúde muito consideráveis. Mas isto não era suficiente para palavra do Senhor que disse: “Vim para tenha vida em abundância”.


A semente da pregação missionária estava direccionada para um novo tipo de vida; no sentido de que, as pessoas ao se converter ganhavam um novo relacionamento com Cristo, apropriavam-se da salvação em nome de Jesus; tal relacionamento com Cristo, devia se reflectir na qualidade de vida diária. Pois havia muitas doenças provocadas por falta de higiene. Por exemplo os corpos andavam soltos, quando alguém sentisse necessidade, no caso de homens, pegava numa catava ou num instrumento qualquer ia para o mato e voltava com um pau ou algo parecido. Enfim, pela observação atenta, os missionários chegaram a seguinte conclusão: “Setenta por cento das doenças em Angola podiam ter sido evitadas se se tivesse respeitado alguns princípios básicos de saúde pública como por exemplo, utilizar água potável, sabão, destruir focos de infecção (lixo) afastar os mosquitos, usar latrinas e comer racionalmente” (HERDERSON, 1990, p 217).


Foi esta visão que levou a Igreja a pôr em prática programas dirigidos a comunidade sobre higiene, saúde pública, agricultura, nutrição, economia doméstica, etc. As vezes aqui e acolá, ouvimos um outro cidadão a criticar o método missionário por ter criado uma certa separação de aldeias. Esta crítica é menos relevante pela virtude do programa. Pois a unidade básica do programa era a aldeia cristã. Pela razão de que: Sempre que uma família se convertesse para uma missão protestante, ela passava para uma nova aldeia onde a vida girava em torno da capela-escola, que era orientada pelo catequista, reconhecido como seu dirigente, cujas credenciais a partir de 1920 eram emitidas pela administração civil colonial.

Estas aldeias eram completamente diferentes; diferentes até das aldeias católicas. Quem o afirma é o Rev. Henderson, (1990, p. 217) ao dizer: “Nas aldeias católicas existia sempre uma cruz no telhado da escola e nas protestantes não se via. Um outro traço característico das aldeias protestantes e que as distinguia bem das aldeias católicas era a existência de árvores de fruto, muita ordem, muito asseio e um certo conforto e mesmo prosperidade”.

Seguindo ainda o pensamento de Henderson, que cita um leigo católico de nome António Kambala, este que traz o contraste entre a comunidade católica e protestante, nas seguintes palavras: “O missionário protestante não se preocupava apenas com a alma e a vida espiritual dos cristãos. Preocupava-se também com a vida física, com o problema da habitação, com a saúde e com o bem-estar geral dos cristãos. Aldeias protestantes eram limpas, com algumas casas caídas. Em cada uma das aldeias existia um sistema de irrigação... o homem protestante vestia-se bem, comia bem, possuía uma casa asseada e tinha mais dinheiro que o outro...”.
O que este nosso compatriota disse a mais de meio século atrás é o que se denomina de visão holística do evangelho ou teologia Holística. É este fazer integrado da acção social e evangelho que tem caracterizado a nossa Igreja ao longo dos anos. Quem concorda com esta ideia é o missiólogo português da Junta de Investigação do Ultramar, José Júlio Gonçalves, ao dizer que a visão holística do evangelho foi o segredo do sucesso da igreja protestante, que consistia na “pregação da fé, ministrada em cinco grandes grupos de acção educação, saúde, comunicação, desenvolvimento comunitário e africanização” (HENDERSON, 1990, p. 218).


O nome do programa que levava este novo tipo de vida na aldeia cristã era denominado “Melhoramento do Povo”. Na prática, um grupo de aldeias de uma determinada missão reuniam-se, principalmente no cacimbo para aprender os conhecimentos necessários para cultivar vegetais, abrir fossas, fazer tijolos, telhas, ladrilhos, tomar conta do bebe, preparar papas de soja, etc (p. 219). Diante disso, José Júlio Gonçalves teceu grandes elogios ao método que ele mesmo chamou de “forma de adaptação da cultura africana à missão de propagação do Evangelho e da divulgação do ministério de assistência à saúde.


Os pioneiros da sistematização do programa de acção social, que posteriormente veio a ser conhecido por “Melhoramento do Povo” foram a Rev Lauretta Dibble e o Rev Prior e sua esposa que na principio da década de 1930 andaram de aldeia a aldeia a pregar a plenitude do evangelho. Porém, só em 1953 que o programa foi sistematizado e sediado do Dondi na sede do Conselho da Igrejas Evangélicas de Angola Central. De facto foi o Rev. Merril Ferguson da Missão de Kamundongo que em 1953, convidou o dr. Allen Knight, agrónomo, o dr. Gilchrist, medico cirurgião, o pastor Marcolino Chico Chingangela e o Sekulu Jimi, para fazer uma actividade prática em Kamundongo com a participação de aldeões. Assim, fabricaram tijolos, ladrilhos, construíram fontenários, moeram soja, deram papas aos bebes, fizeram retretes, etc. Esta actividade veio a ser rotineira e rotativa, no sentido de ensinar a comunidade fazendo com ela, nesta aldeia para passar para outra.


Os resultados foram tão bons que José Gonçalves citado por Henderson (1990, p.219), diz que “os dirigentes africanos dispunham de conhecimentos para agirem, tanto como catequistas, como professores, como enfermeiros ou como pastores, podendo dizer-se mesmo que eles eram mais eficientes que o pessoal estrangeiro com formação académica superior.


A partir de 1955, a visão holística do evangelho passou a ser a maneira como a igreja pregou a Boa Nova de Cristo e necessariamente o pastor e sua família, quer dizer, esposa assumiram a liderança do programa do Melhoramento do Povo, a par e passos com outros leigos. Um exemplo claro de liderança do programa de Melhoramento do Povo num Pastorado foi do “Rev. Feliciano Nunda e sua esposa dona Benfilia, que num projecto experimental na aldeia de Sapessi fabricaram 5000 ladrilhos e 25 mil telhas em quatro semanas. Nos anos posteriores, até 1960, fabricaram telhas, tijolos e ladrilhos suficientes para sete aldeia do centro de Sapessi” ( HENDERSON, 1990 p, 220). É importante saber que a acção social da Igreja teve até o ano da independência nacional duas linhas que concorriam para o mesmo fim. A primeira, da linha profissional: Saúde e educação; a segunda, comunitária: programa do melhoramento do povo. É importante também, saber que na década de 1960, o programa de Melhoramento do Povo tinha atingido o ponto mais alto da sua história, houve um entrosamento de alto nível entre a parte espiritual e social. De maneira que havia estudos bíblicos próprios dirigido para “VAKUACIPATO LA SUKU, (SOCIOS DE DEUS)”. Arquivo Sínodo Provincial do Huambo.
Mesmo com os problemas que o país veio a conhecer, o trabalho da acção social não desfaleceu. Por exemplo uma acta da reunião de Pastores e Diáconos, no dia 18 de Dezembro de 1976, dirigida pelo Director da Missão do Huambo, o Rev. Henrique Etaungo Daniel, esta reunião agradeceu ao Conselho das Igrejas Evangélicas de Angola Central pela dádiva de (20.000,00) Vinte mil escudos, para o Fundo de caridade.

Já nos documentos do ano de 1981encontramos um programa específico do Sínodo Regional do Huambo denominado: “PROGRAMA DO CULTO DEDICADO A ASSISTÊNCIA SOCIAL CRISTÔ. Este programa traz uma liturgia rica de textos bíblicos e litania alusivos ao dia 22/03/1981. Porém entre os documentos disponíveis que tive acesso, ainda não encontrei nenhuma referência que justifica o 22 de Março, como o dia da Assistência Social Cristã.


A década de 1980 foi a mais fechada (dificuldades) para igreja realizar a sua missão. Em 1991, entre os dias 04 à 08 de Abril na cidade do Lobito, na Congregação da Caponte, Sínodo Regional do Lobito reuniu-se a 2a Assembleia Bienal. Entre viárias comissões de trabalho, uma delas foi a comissão para recepção dos deslocados composta pelos Pastores José Belo Chipenda, Floriano Ukuahamba, Tarcísio P. Chokombonge, Domingos Saculanda, Dr. Abel Ulundu e Rev Jimy Kirkwood ( Observador). Foi esta Assembleia de 1991 que instituiu o “Departamento Técnico” e nomeou o Pastor Tarcísio P. Chokombonge como seu Director. No ano seguinte, a direcção do departamento fez a proposta do nome: DEPARTAMENTO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL ESTUDOS E PROJECTOS e a insígnia de ONJANGO.


Assim o DASEP não é mais senão a continuação do sonho da Rev. Lauretta Dibble e Rev. Prior nos anos de 1930, a consolidação do Programa de Melhoramento do Povo do Rev. Merril Ferguson, do Dr. Allen Knight, Revs. Feliciano e Chingangela, do Sekulu Jimi e outros.


Queira Deus, que esse trabalho de evangelização com duas pernas: fé e obras continue a locomover-se.

Rev. Tarcísio Pedro Chokombonge

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